quinta-feira, 4 de junho de 2020

O velho testamento segundo a inspiração limeriana de Arievado Vianna

O velho testamento segundo Zé Limeira

Por Paiva Neves
      A Cordelaria Flor da Serra começou a publicar folhetos em 2016. Nove meses, após a primeira edição dos primeiros folhetos, timidamente, fiz contato com o poeta Arievaldo e perguntei se ele teria interesse em publicar um título com o nosso selo. Ele enviou-me quatro textos de primeiríssima qualidade, diagramados e com capas. Um deles foi o cordel do Zé Limeira. Nós, eu e ele, nos referíamos a esse folheto assim, mas na verdade de Zé Limeira só tem o título e o estilo, enquadrado como do "absurdo", pois o folheto, do começo ao fim, está impregnado da gaiatice fantástica do poeta Ari. 

     Na apresentação que escrevi, há época de publicação do cordel, discorri sobre a polêmica em torno da existência ou não do poeta do absurdo. Afirmei que essa polêmica, ao invés de diminuir, aumenta a popularidade desse Bardo sertanejo. A obra atribuída a ele é de um humor refinado e por isso sobrevive ao tempo. 
    Seguindo a trilha dessa verve surreal,  o poeta Arievaldo Viana escreveu esse cordel, que tem todos os ingredientes para se transformar em mais um clássico da nossa poesia de gracejo. Assim como a obra do poeta do absurdo, a obra de Arievaldo tende, também a se tornar eterna.
O poeta cearense, falecido recentemente, assim começa sua narrativa:
Quando Adão andava nu
E mamãe Eva pelada
Veio uma cobra safada
Da espécie surucucu
Dançando um maracatu
Mazurca,  xote e xaxado
Mostrando-lhe um fruto invocado,
Dizendo: - Passe no dente!
Eva escutou a serpente
E inventou o pecado.


        São 16 páginas de pura gaiatice e humor refinado. O poeta, beirando a improvisação daqueles poetas de feiras, vai brincando com as informações e personagens bíblicas, tudo bem medido, bem rimado e misturado com o linguajar do povo simples do Nordeste. Nessa brincadeira versificada, o poeta termina dizendo


Quem quiser saber do resto
Dessa história sagrada
Consulte uma tabuada,
Livreto que eu detesto.
Não digam que eu não presto,
Sou poeta de alento,
Mas vou parar no momento
Antes que eu desaprume,
Compre o segundo volume
Com o Novo Testamento.

Dito isso me vem uma pergunta: Zé Limeira existiu mesmo ou é criação da genialidade do nosso povo? Não sei! Mas se tiver existido, com certeza será o parceiro ideal, lá no céu dos poetas, para as conversas do poeta de Canindé.




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