quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Jericoacoara e a lenda da cidade encantada



          A Cordelaria Flor da Serra divulga ao público sua primeira publicação de 20118. "Jericoacoara e a lenda da cidade encantada" é um folheto de cordel com ilustração de capa de Eduardo Azevedo e texto de Godofredo Solon, poeta estreante na nossa editora.
           As lendas, narrativas míticas da oralidade, expressam a crença e o sentido de pertencimento de um povo com o seu lugar. Todos os povos, todas as etnias e comunidades têm as suas lendas, histórias orais que são transmitidas de geração a geração e que faz com que um grupo humano se reconheça enquanto coletividade.
           Essa transmissão de saberes acontece geralmente, na mais pura informalidade, de forma natural. Narrar fatos, contar histórias é uma necessidade humana, para a própria sobrevivência. Foi assim que evoluímos. É assim que aprendemos. Antônio Cândido (1980), acerca da oralidade, da literatura sem leitores, explica que nossa sociedade rural teve uma grande 'elite analfabeta", ou seja, contadores e ouvintes de histórias, que mesmo sem fazer parte de uma sociedade letrada, transmitiam seus saberes, crenças e valores pela oralidade, a que ele chama de "público de auditores".
           É nessa perspectiva que Jericoaocara difunde sua lenda, a lenda da cidade encantada e da moça que foi transformada em serpente por um feiticeiro malvado. O poeta Godofredo, irmão de Evaristo e Rouxinol, outros dosi grandes da nossa poesia, narra essa história em versos de cordel.
           Nesse belo texto poético, o poeta nos convida a fazer um passeio turístico por Jeri. Ele nos leva a conhecer a Pedra Furada, o Serrote, a Praia Malhada, a Lagoa Azul, a Lagoa Paraíso e a Duna Pôr do Sol, locais aprazíveis de Jericoacoara e depois, aos poucos, vai nos levando ao mundo lendário que povoa o imaginário do povo de Jerí. A prosa é boa, mas deixemos que o próprio poeta nos conte. Leia os versos iniciais do cordel "Jericoacoara e a lenda da cidade encantada" e, para ler a obra completa faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail,com ou pelo WhatsApp (085) 999569091. Enviamos pelo Correio.

Um outro ponto turístico
É o morro do farol;
Lá de cima, vê-se à praia
A turma do futebol,
Como também o nascer
Da lua no pôr-do-sol.

Sobre este morro os antigos
Contam u’a história tremenda:
Dizem que, ao baixar das águas,
Na base surge uma fenda,
Entrada para a cidade
Encantada da tal lenda.

Uma espécie de caverna,
Que só se entra agachado,
Sendo o passadouro estreito
É o entrar dificultado,
E uma grade de ferro
Deixa o trecho bloqueado.

Relata-se que bem antes
Da Vila de Pescadores,
Na então Jericoacoara,
Viveram nobres senhores,
Que residiam em mansões,
Donos de muitos valores.

Mas a lenda da princesa
É de séculos atrás,
Quando uma bela donzela
Rejeitou um vil rapaz,
Um feiticeiro malvado
Que lhe roubou toda a paz.

O terrível feiticeiro,
Com uma grande magia,
Transformou essa donzela
Em serpente certo dia,
Trazendo a toda a cidade
Tristeza e desarmonia.

O feiticeiro falou-lhes,
Com um tom bem debochado:
— Somente co’ um sacrifício,
O encanto será quebrado.
Em seguida, todo o povo
Com ela foi encantado.

Para as cavernas do morro
Foi toda a gente levada,
Junto com suas mansões,
Ela está lá fixada,
Aguardando seu herói,
A tal cidade encantada.

A donzela transformada,
Que chamamos de princesa,
Vive no subterrâneo,
Com metade da beleza,
Pois a outra parte é cobra,
Pra sua grande tristeza.

Sua cabeça e seus pés
Continuaram normais,
Mas do ombro aos tornozelos
É uma serpente sagaz.
Falam que vive sonhando
Com um jovem forte e voraz.

Dizem que quando a maré
Dá acessibilidade,
A donzela serpentina
Aproxima-se da grade,
Ansiosa por um jovem
Para lhe dar liberdade.


Parte superior do for

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O Mundo Perdido em Cordel



                                                               Por Marco Haurélio
O professor George Edward Challenger, protagonista do romance O mundo perdido, é um gênio incompreendido, motivo de desprezo por parte da comunidade científica de Londres por conta de suas ideias inusitadas. Um jornalista inexperiente, Edward Malone, é designado por seu chefe para entrevistar esse “cientista louco”, com a clara intenção de desmascará-lo. A missão se revela quase impossível por conta de um ardil: Malone finge ser um estudante, mas não engana Challenger, o que dá ensejo a uma confusão, interrompida por um policial que já conhece as manias do cientista e decide prendê-lo. Ao defendê-lo, Malone conquista sua confiança e recebe um inusitado convite: fazer parte de uma expedição a uma parte remota da floresta amazônica habitada por dinossauros.

Malone aceita o convite e, com mais dois personagens, lord Roxton e o cientista ortodoxo Summerlee, se envolverá numa perigosa aventura da qual não sabe se sairá vivo. A princípio, um dos motivos de seu engajamento na expedição é a paixão que nutre pela jovem Gladys, a quem deseja impressionar. Como narrador do romance, é ele que levará o leitor a compreender a personalidade de Challenger e sua obstinação em provar uma descoberta que a ciência oficial insiste em desacreditar.

Escrito em 1912, O mundo perdido apresenta-se como um contraponto à mais célebre criação de Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes. É um romance de aventuras e, principalmente, um dos melhores textos de ficção científica já escritos. Não dá para calcular a influência que este livro vem exercendo, ao longo do último século e do atual, na mentalidade coletiva. Vale dizer que, sem O mundo perdido, os filmes de dinossauros não seriam os mesmos. A primeira produção, filmada nos Estados Unidos e dirigida por Harry Hoyt, foi feita para o cinema mudo, em 1925. Nela, Sir Arthur Conan Doyle interpreta a si mesmo. Em 1960, a história foi novamente filmada, desta vez sob direção de Irwin Allen, que dirigiria também o clássico Inferno na Torre.  Sem contar a série britânica, filmada entre 1999 e 2002, que, apesar de trazer o quarteto protagonista do romance, apresentava, em seus roteiros, viagens no tempo, vampiros e outras inovações pouco criativas. No cinema, temos, ainda, a trilogia Parque dos dinossauros, de Steven Spielberg, baseada na obra do escritor Michael Crichton, em que a influência da obra de Conan Doyle salta aos olhos.


Assim, esta adaptação em cordel, empreendida pelo talentoso poeta Paiva Neves, talvez seja a mais inusitada de todas as obras derivadas do texto original. Para escrevê-la, o autor deslocou-se de Maracanaú, Ceará, onde reside, até Itapipoca (que significa “pedra lascada”), no mesmo estado, curiosamente conhecida como a “terra dos dinossauros”. A sua versão em cordel também traz como narrador o jovem Malone, mas a apresentação, feita no início, é digna de nota, pois personagem e autor fundem-se para explicar a forma com que a história é (re)contada:

Pelo mundo do cordel
Meu sucesso é garantido.
De versos metrificados
Meu poema está munido
Para narrar os perigos
Do velho mundo perdido.

Paiva Neves, por vezes, se aproxima do original, quando, ao contar o ataque sofrido pelo grupo, esbanja criatividade e domínio técnico na arte de versejar:

Era como um toldo enorme,
Pescoço como serpente.
Olho vermelho, feroz,
Parecia tocha ardente.
Um pterodátilo vivo
Sobrevoou sobre a gente.

Motivos, portanto, não faltam para os leitores de todas as idades conhecerem ou revisitarem o platô amazônico, na companhia dos quatro intrépidos aventureiros, liderados pelo professor Challenger.





domingo, 4 de fevereiro de 2018

O Livrinho que era triste



          A Cordelaria Flor da Serra coloca a disposição do público o folheto de cordel "O livrinho que era triste", de autoria de Josenir Lacerda, tendo na capa xilogravura de Maércio Siqueira.           
          A Cordelaria ver com enorme contentamento, entrar por sua porta editorial uma poeta do peso de Josenir Lacerda, trazendo malas abarrotadas de poesias. A poetisa, atendendo a proposta da editora, que é escrever com qualidade, nos presenteia com textos maravilhosos, como esse, "O livrinho que era triste".
           A poeta, nesse cordel, faz uma viagem ao mundo do imaginário fantástico e cria um livrinho tristonho, esquecido pelos leitores, principalmente os pequenos. Como ela nos faz ver, nos seu versos, o livro só é alegre quando é lido, quando é folheado, quando é consumido. Sem essa ação humana de ler, o livro é um artefato como outro qualquer. Porém quando ele é lido, ganha vida, ganha alegria ao realizar as mais fantásticas viagens de quem os ler.
           Esse livrinho do poema da Josenir era triste exatamente por não ser lido, não ter tido ainda a oportunidade de realizar a viagem fantástica de algum leitor. "O livrinho que era triste", cordel destinado às crianças, tem o poder encantatório de sensibilizar também a adultos. Deguste alguns versos do poema e para saborear a obra completa, compre diretamente da autora, se estiver no Crato ou faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou ainda pelo WhatsApp (085) 999569091, enviamos pelo correio.

A fada da inspiração
É dos livros protetora;
Faz companhia aos poetas,
Da leitura, é defensora;
Cúmplice dos escritores,
Boa amiga dos autores;
Na criação, é doutora.

Dessa fada inspiradora,
Ganhei um dia um presente
Que, com carinho, guardei
No velho arquivo da mente.
Pensando, então, na criança,
Abro o baú da lembrança
E oferto a todas, contente.

É uma singela história
Que a fadinha me contou.
Com voz doce e carinhosa,
Paciente ela narrou
Como se fosse um recado
Ou um bilhete falado
Que alguma vovó mandou.

E assim começa a história
Como aquelas de Trancoso,
Que as nossas avós contavam
Em dia frio e chuvoso.
E mesmo a criança arisca,
Nesse momento, nem pisca, 
Ouve o conto fabuloso.

Ouçam bem: era uma vez
Um livro muito tristinho
Que vivia numa estante
Abandonado, sozinho,
Ansioso como quem
Espera por um alguém
Para ser seu amiguinho.

A história, ao som da rima e da métrica, continua por mais 27 estrofes. Para sentir a sutileza desses versos, entrando no mundo fantástico da imaginação, faça seu pedido e receba seu folheto em casa.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A alma de uma sogra

          "A alma de uma sogra" é um cordel de autoria do poeta Zeca Pereira em que narra a passagem de uma sogra para a outra vida e as artimanhas de sua alma azucrinando a pacata vida do pobre genro. Zeca é Baiano, editor de folhetos, lutador pelo reconhecimento do cordel, enquanto gênero literário e organizou recentemente um livro que reuniu mais de 50 poetas contemporâneos.
Mas, o que tem a dizer a alma de uma sogra? Pelo título, e a própria capa do folheto - traços de autoria de Rafael Brito, o leitor já pode prever sobre trata o poema. O gracejo sempre foi um dos grandes filões dessa literatura. Tanto é, que o público que não é muito conhecedor do cordel, principalmente turistas do Sul, ao ver um folheto já dizem "livrinho de historinhas engraçadas". Essa associação do folheto ao riso, ao cômico vem do fato que os grandes sucessos de públicos no passado eram os folhetos de gracejo. A prova disso é que a "Chegada de Lampião no inferno" é ainda muito procurado.
           Nesse folheto "Alma de uma sogra", o peta Zeca Pereira, apoiando-se na cultura popular e no mito acerca das mães das esposas, e também dos esposos, vai construindo, verso a verso, uma narrativa pra lá de gostosa. Você que tem sogra, mesmo sabendo que ela é uma flor de pessoa, quase uma segunda mãe e que gosta de um humor, de uma irreverencia vai encarar numa boa essa brincadeira. Portanto, não deixe de lê essa obra, que tudo tem para se tornar um clássico do humor do cordel contemporâneo. Leia um pouco da obra do poeta de Barreiras, na Bahia e para lê o folheto completo compre diretamente com o autor ou faça seu pedido pelo Email cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085)999569091. Enviamos pelo correio.

Se falar em sogra é
Motivo de gozações,
De críticas, até piadas,
Mentiras e discussões;
Neste cordel eu darei
Boas contribuições. 

Eu como já tenho ouvido,
Histórias de todo jeito,
Certa vez escutei esta
Contada por um sujeito,
Sobre a morte duma sogra
E seu enterro mal feito.

Ele disse: — A minha sogra,
Lembro dela quando viva.
Era bem pior que o Demo
Tinha maneira agressiva,
Se cuspisse numa cobra
Matava com a saliva!

Falava de todo mundo
Não respeitava ninguém.
Batia em cara de homem
Pois sabia brigar bem,
Soldado corria dela
E o delegado também.

O seu nome era Maria,
Apelido Marião.
Era alta, bastante forte,
Seis dedos em cada mão.
Infeliz quem procurasse
Com a velha, confusão.

Se chegasse num forró
Logo a festa se acabava,
Pois o cacete comia,
Gente pelo chão rolava.
Todos hospitais enchiam
Nos dias que ela brigava.

Certa vez chegou na feira
Fazendo o maior regaço.
Bateu gente, virou banca,
Levando tudo no braço.
Fez o povo recordar
Lampião, rei do cangaço.

Um dia pegou um cara
Que dizia ser valente.
Em uma troca de socos
Quebrou-lhe dente por dente
Depois fez ele engolir
Meio litro de aguardente.

Um dono de bar ao vê-la
A sua porta fechava
Mas, ela metia o pé,
A porta abria ou quebrava,
Após beber à vontade
Ia embora e não pagava.

Eu fui forçado a casar
Com sua filha tão feia.
Sofrendo grande ameaça
Até de cair na peia,
Menina louca por homem
Ela chora e esperneia.

No dia do casamento
Não apareceu ninguém.
O padre se escafedeu,
Ela olhou e disse: — Bem!
Os dois já estão casados
Na lei de Deus Pai, amém!

Único orgulho que tinha
Ser genro de Marião
Era nenhum vagabundo
Querer me tocar a mão.
E polícia nem pensava
Em me levar à prisão.

Mas agora eu vou falar
Da forma como morreu,
O que passou no velório
E tudo que aconteceu
Com sete dias depois
De enterrar o corpo seu.


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O Afilhado da Virgem e a sina do enforcado

           Em “O afilhado da virgem e a sina do enforcado” o poeta Arievaldo Viana resgata a rica tradição da literatura de cordel em contar histórias. Nesse folheto de fôlego o poeta foi na medida e em 159 estrofes de seis versos reconta o clássico  conto “O defunto” do escritor português Eça de Queiroz. É uma obra para ler e reler, pois em cada leitura é possível perceber determinadas nuances que em uma leitura aligeirada pode passar despercebida ao olhar menos atento.
          Por exemplo, na minha primeira leitura me deleitei com o aspecto geral da narrativa, com o jogo de cenas da trama do vilão e o ímpeto benevolente do mocinho, e não me apercebi da riqueza no diálogo do mocinho com o cadáver. 
          Sim, estamos falando de personagens totalmente boas e outras totalmente ruins pois essa é uma característica dos clássicos do cordel que tinha como objetivo contemplar leitores menos exigentes, leitores contextualizados e concretos de uma determinada época histórica. Leitores/ouvintes (2000) como bem foi caracterizado por Ana Maria de Oliveira Galvão. Segundo essa autora, no recorte da sua pesquisa de Doutorado, o público leitor de cordel dos anos 30 a 50, em Pernambuco era leito/ouvinte devido aos altos índices de analfabetismos. Dessa forma, os folhetos eram comprados e os poucos leitores alfabetizados liam ou cantavam as histórias rimadas para os demais. Assim, já que o ato de ler é bem mais amplo do que uma simples decodificação da palavra escrita, o público leitor ia além daqueles que de fato estava lendo, passando a abranger a totalidade do público ouvinte.
          Nessas leituras coletivas eram lidos e ouvidos textos que iam além dos folhetos de 08 páginas. Os grandes romances da Literatura de Cordel de autoria de Leandro Gomes de Barros, José Camelo Resende e tantos outros cordelistas de peso foram avidamente consumidos por esses leitores/ouvintes. Com o tempo essa tradição foi sendo extinta tanto pelos leitores/ouvintes como pelos poetas e passou a ser produzidos mais os folhetos com textos menos extensos.
          Arievaldo Viana, nesse texto resgata essa tradição, a tradição do romance longo, de 32 páginas. “O afilhado da virgem e a sina do enforcado” é uma história que se Europa medieval. Uma jovem pura e bela, protótipo da mulher submissa, com um casamento arranjado, como era costume à época é casada com um velho perverso e ranzinza. Logo no inicio do enredo aparece um jovem na história e se apaixona perdidamente pela mocinha. O velho e perverso marido, que mantinha a mulher presa, desconfiando das intenções do rapaz resolve matá-lo, no entanto como o rapaz era devoto e afilhado da virgem termina sendo salvo por o cadáver de um enforcado. A seguir leia o início do romance e trechos da singular conversa do rapaz com o enforcado. Para ler a obra completa faça seu pedido pelo Email cordelriaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 999569091, enviamos pelo correio.

Nossa língua portuguesa
Tem renomados autores
No Brasil ou Portugal
Existem grandes valores
Que lapidam a “Flor do Lácio”
Na função de escritores.

Através dos meus pendores
E pensamento veloz
Quero traçar um poema
Depois soltar minha voz
Tendo por base uma obra
Do grande Eça de Queirós.

“O defunto”, esse é o título
Original desse conto
Já diz um velho ditado
Quem reconta, aumenta um ponto;
Leitor, se for pretensão,
Queira me dar um desconto.

À narrativa remonto
Buscando um novo traçado
A começar pelo título
Que é mais do meu agrado:
“O afilhado da Virgem
E a sina do enforcado.”

Em mil, quatrocentos e
Setenta e quatro, em Castela
Residia uma senhora
Jovem, sábia e muito bela
Tinha o porte de princesa
Numa educação singela.

Tinha o talhe muito esbelto
E os lábios nacarados
Sobre a cabeça brilhavam
Lindos cabelos dourados
A pele branca encantava
Lembrando campos nevados.

Chamava-se Leonor
Essa divina beldade
Contava, por esse tempo,
Dezoito anos de idade
Casara com um fidalgo
Embora contra a vontade.

Com Dom Alonso de Lara
Homem de idade avançada
A belíssima Leonor
Casara quase obrigada,
Morava com o seu marido
Em Segóvia, enclausurada.

Além de velho e ranzinza
Alonso era ciumento
Não a deixava sair
E a tudo estava atento
A vigiava em segredo
Tinha cisma até do vento.


Levava a moça esta vida
Com Dom Alonso de Lara
Sair daquela prisão
Era coisa muito rara
Porém jamais lamentava
Sua sorte tão avara.

Defronte ao seu palacete
Num sobrado de esquina
Morava Dom Rui de Cárdenas
Moço de aparência fina
Sobrinho do Arcebispo
Uma mente cristalina.
....................................................................................................................................................................................................................................................
Passando defronte o campo
O seu sombreiro tirou
Fez uma rápida oração
Depois se persignou
Uma voz misteriosa
Nesse momento escutou:

Oh, cavaleiro, detende-vos,
Vinde cá! Assim dizia
A voz que ele escutou
Porém não compreendia
Que fosse de um enforcado
Que a ele se dirigia...

Quis seguir o seu trajeto
Mas logo que ele sai,
A voz lhe diz novamente:
Oh, cavaleiro, esperai
Pois tenho algo a dizer-te
Peço-lhe então que voltai!

Um leve frio na espinha
Nesse momento sentiu
Porém detendo o cavalo
Aos mortos se dirigiu:
Quem, dentre vós, me chamou?
Nesse momento ele ouviu:

Fui eu, senhor! Disse um deles,
Vos peço um grande favor
Cortai depressa essa corda
Quero segui-lo, senhor,
Pois sei que vais a Cabril
Para negócios de amor!

Dom Rui puxou a espada
Sentindo um leve pavor,
Cortou a corda e mostrou-lhe
O sinal do Redentor;
O enforcado ajoelhou-se
Com reverência e temor.

Primeiro Dom Rui pensou
Ser do diabo uma cilada,
Mas o enforcado lhe disse:
Não tenhas medo de nada,
Quero somente ajudar-te...
Ao longo dessa jornada.

Pelo favor que agora
Eu pretendo vos prestar
Espero boa indulgência
Que os céus irão me dar...
Dom Rui então consentiu
O homem lhe acompanhar.

Então, com grande surpresa
Percebeu que o enforcado
Sem demonstrar grande esforço
Corria ali, do seu lado,
Disposto a acompanhá-lo
Como havia anunciado.


Se agarre com os folhetos se não o rato carrega

Peleja virtual com Arievaldo Viana, Paiva Neves, Stélio Torquato Lima e Rouxinol do Rinaré Por Paiva Neves            Corria o ...