terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O Mundo Perdido em Cordel



                                                               Por Marco Haurélio
O professor George Edward Challenger, protagonista do romance O mundo perdido, é um gênio incompreendido, motivo de desprezo por parte da comunidade científica de Londres por conta de suas ideias inusitadas. Um jornalista inexperiente, Edward Malone, é designado por seu chefe para entrevistar esse “cientista louco”, com a clara intenção de desmascará-lo. A missão se revela quase impossível por conta de um ardil: Malone finge ser um estudante, mas não engana Challenger, o que dá ensejo a uma confusão, interrompida por um policial que já conhece as manias do cientista e decide prendê-lo. Ao defendê-lo, Malone conquista sua confiança e recebe um inusitado convite: fazer parte de uma expedição a uma parte remota da floresta amazônica habitada por dinossauros.

Malone aceita o convite e, com mais dois personagens, lord Roxton e o cientista ortodoxo Summerlee, se envolverá numa perigosa aventura da qual não sabe se sairá vivo. A princípio, um dos motivos de seu engajamento na expedição é a paixão que nutre pela jovem Gladys, a quem deseja impressionar. Como narrador do romance, é ele que levará o leitor a compreender a personalidade de Challenger e sua obstinação em provar uma descoberta que a ciência oficial insiste em desacreditar.

Escrito em 1912, O mundo perdido apresenta-se como um contraponto à mais célebre criação de Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes. É um romance de aventuras e, principalmente, um dos melhores textos de ficção científica já escritos. Não dá para calcular a influência que este livro vem exercendo, ao longo do último século e do atual, na mentalidade coletiva. Vale dizer que, sem O mundo perdido, os filmes de dinossauros não seriam os mesmos. A primeira produção, filmada nos Estados Unidos e dirigida por Harry Hoyt, foi feita para o cinema mudo, em 1925. Nela, Sir Arthur Conan Doyle interpreta a si mesmo. Em 1960, a história foi novamente filmada, desta vez sob direção de Irwin Allen, que dirigiria também o clássico Inferno na Torre.  Sem contar a série britânica, filmada entre 1999 e 2002, que, apesar de trazer o quarteto protagonista do romance, apresentava, em seus roteiros, viagens no tempo, vampiros e outras inovações pouco criativas. No cinema, temos, ainda, a trilogia Parque dos dinossauros, de Steven Spielberg, baseada na obra do escritor Michael Crichton, em que a influência da obra de Conan Doyle salta aos olhos.


Assim, esta adaptação em cordel, empreendida pelo talentoso poeta Paiva Neves, talvez seja a mais inusitada de todas as obras derivadas do texto original. Para escrevê-la, o autor deslocou-se de Maracanaú, Ceará, onde reside, até Itapipoca (que significa “pedra lascada”), no mesmo estado, curiosamente conhecida como a “terra dos dinossauros”. A sua versão em cordel também traz como narrador o jovem Malone, mas a apresentação, feita no início, é digna de nota, pois personagem e autor fundem-se para explicar a forma com que a história é (re)contada:

Pelo mundo do cordel
Meu sucesso é garantido.
De versos metrificados
Meu poema está munido
Para narrar os perigos
Do velho mundo perdido.

Paiva Neves, por vezes, se aproxima do original, quando, ao contar o ataque sofrido pelo grupo, esbanja criatividade e domínio técnico na arte de versejar:

Era como um toldo enorme,
Pescoço como serpente.
Olho vermelho, feroz,
Parecia tocha ardente.
Um pterodátilo vivo
Sobrevoou sobre a gente.

Motivos, portanto, não faltam para os leitores de todas as idades conhecerem ou revisitarem o platô amazônico, na companhia dos quatro intrépidos aventureiros, liderados pelo professor Challenger.





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