
As lendas, narrativas míticas da oralidade, expressam a crença e o sentido de pertencimento de um povo com o seu lugar. Todos os povos, todas as etnias e comunidades têm as suas lendas, histórias orais que são transmitidas de geração a geração e que faz com que um grupo humano se reconheça enquanto coletividade.
Essa transmissão de saberes acontece geralmente, na mais pura informalidade, de forma natural. Narrar fatos, contar histórias é uma necessidade humana, para a própria sobrevivência. Foi assim que evoluímos. É assim que aprendemos. Antônio Cândido (1980), acerca da oralidade, da literatura sem leitores, explica que nossa sociedade rural teve uma grande 'elite analfabeta", ou seja, contadores e ouvintes de histórias, que mesmo sem fazer parte de uma sociedade letrada, transmitiam seus saberes, crenças e valores pela oralidade, a que ele chama de "público de auditores".
É nessa perspectiva que Jericoaocara difunde sua lenda, a lenda da cidade encantada e da moça que foi transformada em serpente por um feiticeiro malvado. O poeta Godofredo, irmão de Evaristo e Rouxinol, outros dosi grandes da nossa poesia, narra essa história em versos de cordel.
Nesse belo texto poético, o poeta nos convida a fazer um passeio turístico por Jeri. Ele nos leva a conhecer a Pedra Furada, o Serrote, a Praia Malhada, a Lagoa Azul, a Lagoa Paraíso e a Duna Pôr do Sol, locais aprazíveis de Jericoacoara e depois, aos poucos, vai nos levando ao mundo lendário que povoa o imaginário do povo de Jerí. A prosa é boa, mas deixemos que o próprio poeta nos conte. Leia os versos iniciais do cordel "Jericoacoara e a lenda da cidade encantada" e, para ler a obra completa faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail,com ou pelo WhatsApp (085) 999569091. Enviamos pelo Correio.
Um outro
ponto turístico
É o morro do farol;
Lá de cima, vê-se à praia
A turma do futebol,
Como também o nascer
Da lua no pôr-do-sol.
É o morro do farol;
Lá de cima, vê-se à praia
A turma do futebol,
Como também o nascer
Da lua no pôr-do-sol.
Sobre
este morro os antigos
Contam u’a história tremenda:
Dizem que, ao baixar das águas,
Na base surge uma fenda,
Entrada para a cidade
Encantada da tal lenda.
Contam u’a história tremenda:
Dizem que, ao baixar das águas,
Na base surge uma fenda,
Entrada para a cidade
Encantada da tal lenda.
Uma
espécie de caverna,
Que só se entra agachado,
Sendo o passadouro estreito
É o entrar dificultado,
E uma grade de ferro
Deixa o trecho bloqueado.
Que só se entra agachado,
Sendo o passadouro estreito
É o entrar dificultado,
E uma grade de ferro
Deixa o trecho bloqueado.
Relata-se
que bem antes
Da Vila de Pescadores,
Na então Jericoacoara,
Viveram nobres senhores,
Que residiam em mansões,
Donos de muitos valores.
Da Vila de Pescadores,
Na então Jericoacoara,
Viveram nobres senhores,
Que residiam em mansões,
Donos de muitos valores.
Mas a
lenda da princesa
É de séculos atrás,
Quando uma bela donzela
Rejeitou um vil rapaz,
Um feiticeiro malvado
Que lhe roubou toda a paz.
É de séculos atrás,
Quando uma bela donzela
Rejeitou um vil rapaz,
Um feiticeiro malvado
Que lhe roubou toda a paz.
O
terrível feiticeiro,
Com uma grande magia,
Transformou essa donzela
Em serpente certo dia,
Trazendo a toda a cidade
Tristeza e desarmonia.
Com uma grande magia,
Transformou essa donzela
Em serpente certo dia,
Trazendo a toda a cidade
Tristeza e desarmonia.
O
feiticeiro falou-lhes,
Com um tom bem debochado:
— Somente co’ um sacrifício,
O encanto será quebrado.
Em seguida, todo o povo
Com ela foi encantado.
Com um tom bem debochado:
— Somente co’ um sacrifício,
O encanto será quebrado.
Em seguida, todo o povo
Com ela foi encantado.
Para as
cavernas do morro
Foi toda a gente levada,
Junto com suas mansões,
Ela está lá fixada,
Aguardando seu herói,
A tal cidade encantada.
Foi toda a gente levada,
Junto com suas mansões,
Ela está lá fixada,
Aguardando seu herói,
A tal cidade encantada.
A donzela
transformada,
Que chamamos de princesa,
Vive no subterrâneo,
Com metade da beleza,
Pois a outra parte é cobra,
Pra sua grande tristeza.
Que chamamos de princesa,
Vive no subterrâneo,
Com metade da beleza,
Pois a outra parte é cobra,
Pra sua grande tristeza.
Sua
cabeça e seus pés
Continuaram normais,
Mas do ombro aos tornozelos
É uma serpente sagaz.
Falam que vive sonhando
Com um jovem forte e voraz.
Continuaram normais,
Mas do ombro aos tornozelos
É uma serpente sagaz.
Falam que vive sonhando
Com um jovem forte e voraz.
Dizem que
quando a maré
Dá acessibilidade,
A donzela serpentina
Aproxima-se da grade,
Ansiosa por um jovem
Para lhe dar liberdade.
Dá acessibilidade,
A donzela serpentina
Aproxima-se da grade,
Ansiosa por um jovem
Para lhe dar liberdade.
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